Esse post demorou a sair porque minha “quase demonstração” para o teorema de Alexander não funcionou! 😦
Aí eu peguei da Wikipedia. 🙂
Continuando o post anterior, vamos (tentar) obter o caso geral do teorema de Tychonoff. O primeiro passo é definir o que seria a topologia produto para uma coleção de espaços topológicos. Vamos usar para representar o conjunto dado pelo produto cartesiano de . E vamos convencionar que é a projeção natural.
Em um primeiro momento, pode-se argumentar que o mais “natural” seria definir a topologia produto como sendo aquela gerada pela família . Certamente que foi isso o que eu pensei da primeira vez que me deparei com o problema. Essa é uma topologia possível, mas no entanto parece não ser tão fácil de descrever suas propriedades em termos das componentes .
Por exemplo, dada uma sequência (ou rede) , como podemos dizer — baseado nas coordenadas — quando é que é convergente? Analogamente, quando é que uma função é contínua nesta topologia?
A facilidade de se fazer essa conexão entre o comportamento do produto e o comportamento de cada coordenada individualmente é a essência da topologia produto.
Definição: A topologia produto é a topologia mais fraca tal que todas as projeções são contínuas.
Observações:
1. A topologia produto é portanto gerada pelos conjuntos da forma , com .
2. A topologia produto pode ser caracterizada através de redes: Se , então se, e somente se, para todo , .
3. A topologia produto é, no caso infinito, estritamente mais fraca que a topologia gerada pela família .
4. A topologia produto apresentada acima coincide, no caso finito, com a topologia produto definida no post anterior.
A observação 2 não foi demonstrada porque para isso precisaríamos definir com precisão o conceito de redes e elaborar caracterizações de fenômenos topológicos em termos deste novo conceito.
Vamos apresentar um exemplo que pode ajudar a convencer o leitor de que o conceito de topologia produto não é tão artificial quanto parece.
Exemplo 1: (topologia da convergência ponto-a-ponto)
Dado um conjunto e um espaço topológico , seja a família de todas as aplicações de para . O conjunto pode ser identificado com , onde é representado em através das coordenadas .
Na topologia produto, dizer que , é o mesmo que dizer, pela observação 2, que para cada , . Ou seja, é o mesmo que dizer que converge ponto-a-ponto para .
Pelo teorema de Tychonoff (que ainda vamos demonstrar), temos que se for compacto, então , com a topologia produto (convergência de redes ponto-a-ponto) será também compacto.
Usando uma construção análoga para o espaço bi-dual de um espaço de Banach , é demonstrada a compacidade da bola fechada na topologia fraca-*.
Exemplo 2: (continuidade)
Seja um espaço topológico. Então uma função será contínua se, e somente se, for contínua para todo .
A demonstração disso é assim: se lembra que no post anterior foi comentado que dada uma sub-base para a topologia de , para que seja contínua, basta que a imagem inversa de cada elemento da sub-base seja aberto? Pois bem… neste caso, a sub-base é dada pelos conjuntos da forma .
Ou seja, é contínua se, e somente se, para todo e , for aberto. Ou seja, exatamente quando for contínua para todo .
O leitor fica convidado (intimado!) a procurar e analisar outras demonstrações desse fato para perceber como a consciência do palpel exercido pela sub-base torna a demonstração mais simples.
Vamos então anunciar o teorema de Alexander e mostrar como ele leva à demonstração do teorema de Tychonoff.
Teorema: (Alexander) Seja um espaço topológico e uma sub-base para . Então, para que seja compacto é suficiente (e necessário) que toda cobertura de por elementos de possua uma sub-cobertura finita.
Demonstração: (ao final do post).
Teorema: (Tychonoff) Seja uma coleção de espaços topológicos compactos. Então, é compacto na topologia produto.
Demonstração:
Pelo teorema de Alexander, basta mostrar que toda cobertura de da forma possui uma sub-cobertura finita. Vamos particionar da seguinte maneira: defina . Para cada , faça .
Suponha — para obter uma contradição — que para todo , a família não cobre , ou seja, . Neste caso, para cada , existe . Portanto, fazendo , para todo , .
Ou seja, não daria uma cobertura para . Portanto, existe tal que . Pela compacidade de , sabemos que existe um subconjunto finito tal que . E portanto, . Ou seja, é uma sub-cobertura finita.
No teorema acima usamos o axioma da escolha para escolher . Para a demonstração do teorema de Alexander utilizaremos o lema de Zorn.
Demonstração do Teorema de Alexander:
Suponha que não seja compacto. Então, pelo lema 1 do post anterior, a coleção de todas as coberturas abertas de por elementos de sem sub-cobertura finita não é vazia. Lembre-se que são os conjuntos da forma , com .
Afirmação 1: A coleção possui um elemento maximal .
Pelo lema de Zorn, basta mostrar que para todo subconjunto não-vazio totalmente ordenado, é um elemento de . De fato, , por conter uma cobertura de é também uma cobertura de . Resta então mostrar que não possui sub-cobertura finita. Se fosse uma subcobertura finita de , então existiria tal que para todo . Ou seja, seria uma sub-cobertura finita de , contrariando a definição de .
O fato de ser maximal, implica que se for aberto, então possui uma sub-cobertura finita.
Afirmação 2: A família não cobre .
Caso contrário, por hipótese, possuiria uma sub-cobertura finita. Esta, por sua vez, também seria sub-cobertura finita de .
Pela afirmação 2, existe que não é coberto por . Como cobre , existe , com , tal que .
Afirmação 3: Nenhum dos pertence a .
Caso contrário, teríamos , contrariando a escolha de .
Pela afirmação 3, para cada , as coberturas são estritamente maiores que e portanto possuem sub-cobertura finita , com . Assim, .
Fazendo , é fácil verificar que . Ou seja, é uma sub-cobertura finita de .
Observações:
1. A notação tá muito ruim! 😦
2. A demonstração da afirmação 1 é muito parecida com a demonstração de que todo espaço vetorial possui uma base. Uma base é um conjunto maximal dentre os conjuntos linearmente independentes. Na demonstração da afirmação 1 utilizamos o fato de que a união crescente de famílias que não possuem sub-cobertura finita também não possui sub-cobertura finita. Do mesmo modo, a união crescente de conjuntos linearmente independentes é um conjunto linearmente independente. É interessante observar o papel da palavra finito. Note que um conjunto linearmente independente é aquele que não possui sub-conjuntos finitos linearmente dependentes. Assim como as coberturas de são aquelas que não possuem sub-coberturas finitas!!
3. Foi preciso usar que é uma sub-base apenas para que fosse uma interseção finita de conjuntos de . Assim, pôde ser escrito como uma união finita de conjuntos finitos.
[…] topológicos, é importante relembrar a definição de topologia produto. E, para isso, há um post muito bem escrito pelo […]
Eu acrescentei uma TAG no post de “Topologia Produto”. Eu estou tentando usar melhor essas TAG’s nos meus posts. Isso porque vi que você usa bem melhor que eu. 🙂
E eu estava usando pouco mesmo…
Nesse processo de colocar mais TAG’s, eu coloquei uma TAG “Topologia Produto” no meu post. Mas, para eu colocá-la no meu post, achei que seria razoável colocar nesse post também (que é o principal post de topologia produto).
Aliás, ainda estou devendo um post sobre Teorema de Tychonoff com redes. E um post sobre topologia compacto-aberta (mais completo que o que eu já fiz).
Valeu,
Abração
P.s.: Não coloquei a TAG “Topologia Produto” no seu outro post de Tychonoff. Isso porque não sabia se você iria querer manter a TAG “Topologia Produto” neste post. Ou seja, se você não gostar, é só precisamos tirar deste post. Se você gostar, precisamos colocar a TAG no outro.
Muito muito boa iniciativa!! 🙂
Os TAGs vão começar a fazer sentido se utilizarmos bastante. Pode colocar nos meus posts sim.
[…] que é um produto de espaços e, munido da topologia produto, é metrizável. Pelo teorema de Tychonoff, segue que é compacto. E, pelas considerações do post anterior, tem-se que é homeomorfo a […]